quinta-feira

Um Freud, O Freud! ;)

O gato é uma maquininha
que a natureza inventou;
tem pêlo, bigode, unhas
e dentro tem um motor.
Mas um motor diferente
desses que tem nos bonecos
porque o motor do gato
não é um motor elétrico.
É um motor afetivo
que bate em seu coração
por isso ele faz ron-ron
para mostrar gratidão.
No passado se dizia
que esse ron-ron tão doce
era causa de alergia
pra quem sofria de tosse.
Tudo bobagem, despeito,
calúnias contra o bichinho:
esse ron-ron em seu peito
não é doença - é carinho.

Um Gato Chamado Gatinho,
FERREIRA GULLAR.

sexta-feira

Gratidão

"A gratidão é a mais agradável das virtudes; (…) é um segundo prazer, que prolonga um primeiro, como um eco de alegria à alegria sentida, como uma felicidade a mais para um mais de felicidade. (…)É um mistério, não pelo prazer que temos com ela, mas pelo obstáculo que com ela vencemos. É a mais agradável das virtudes, e o mais virtuoso dos prazeres. (…)É por isso que ela se aproxima da caridade, que seria como “uma gratidão incoativa, uma gratidão sem causa, uma gratidão incondicional”. Alegria somada a alegria: amor somado a amor. A gratidão é nisso o segredo da amizade, não pelo sentimento de uma dívida, pois nada se deve aos amigos, mas por superabundância de alegria comum, de alegria recíproca, de alegria partilhada. “A amizade conduz sua dança ao redor do mundo”, dizia Epicuro, “convidando todos nós a despertar para dar graças.” Obrigado por existir, dizem um ao outro, e ao mundo, e ao universo. Essa gratidão é de fato uma virtude, pois é a felicidade de amar, e a única."

Pequeno Tratado das Grandes Virtudes
André Comte-Sponville

quinta-feira

Eu não pensava no amanhã!


Desse tempo lembro de algumas coisas:
Que eu morava em alguma cidade da Bahia... não sei qual!
Lembro que um pouco antes moramos em um barco por 1 ano. Parávamos em praias lindas e eu tinha medo de pular do barco quando não conseguia enxergar o fundo do mar... tinha medo do fundo do mar!
Acho que lembro o dia em que a foto foi tirada (afinal, não tirávamos fotos como hoje em dia, nossa situação financeira não era das melhores e eu SEMPRE gostei de tirar fotos!)
Lembro das ruas de Arraial D´ajuda.
Lembro dos amigos malucos da minha mãe, todo mundo bem “zen”.
Das músicas do Raulzito, Rita Lee, Pink Floyd, Caetano, Marillion e Ivan Lins.
Lembro até das capas dos LP´s!!! Principalmente da Rita Lee e do Ivan Lins (Diziam que meu padrinho parecia com ele e como não o conheci direito, "adotei" o Ivan Lins).
Lembro da minha mãe comigo na estrada pedindo carona e mudando pra alguma cidade... Qualquer cidade!
Minha mãe me colocava pra dormir e saía com os amigos dela... Então, quando eu acordava no meio da noite, ia até a porta, que estava fechada, claro! Olhava a porta e achava a maçaneta absurdamente alta, aí tinha que puxar uma cadeira pra alcançar e abrir. A cadeira, eu achava absurdamente pesada! Depois de abrir a porta eu sentava no meio-fio (que eu também achava alto demais) e esperava minha mãe voltar (Algumas vezes chorando).
Lembro dessa blusinha de Mulher Aranha, que eu achava o máximo!
Eu tinha o cabelo lisinho, castanho escuro que passava da cintura e lembro que peguei piolho na escola e dancei! Minha mãe cortou meu cabelo “joãozinho”! Nesse dia eu chorei MUITO!
Minha mãe adorava acampar e eu lembro de um lugar que parecia o "Céu" da novela A Viagem, uns campos lindos, ENORMES, não se via absolutamente nada em volta e, no meio do nada uma arvore, que era onde parávamos... Lembro dos cogumelos que minha mãe colhia também!
Eu não sabia o que era refrigerante, açúcar branco, arroz branco, carne, glacês... Não lembro de festas de aniversário ou datas comemorativas! Acho que todo dia era dia... Não lembro do meu pai em nenhum desses momentos, uma pena... Mas lembro do meu avô, de como seus olhos brilhavam quando estava comigo! Babão era pouco.
Não lembro de Papai Noel.
Lembro que tomava cevada e não café, leite de soja, carne de soja, açúcar mascavo ou mel!
Lembro de sorrisos, lembro de palavras, lembro de livros, discos, lugares e algumas pessoas. Barracas de camping, caju, jambo e jamelão. Carambola, pavão, pé de cacau, flores, praias e mar... Lembro de aprender a andar de bicicleta em uma bicicleta vermelha e que morávamos numa pousada onde minha mãe trabalhava.
Eu não tinha medo de água viva, de bicho papão, nem de desconhecidos.
Bicava a cerveja ou o vinho da minha mãe e ela amava, mas eu detestava champignon.
Eu andava 1km de estrada de terra pra ir pra escola e tinha um menino que se chamava Audisérgio!
Lembro de tantas coisas, com tanta vividez, que me pergunto o que dessas lembranças todas é real ou minha imaginação criou ou sonhou.
Não tenho certeza...
Mas uma coisa que eu lembro e que realmente queria saber fazer hoje, é que eu não pensava no amanhã!!!

Fê 20-03-2006